“Ainda me emociono muito quando vejo os casarões de Paraty.” Desde 1994, Maria Izabel produz a cachaça que leva seu nome, uma das melhores da região. Sua produção é pequena cerca de 7.000 litros por ano e feita com as mesmas técnicas de seus antepassados. “Somos a única cachaçaria que ainda produz o próprio fermento, como se fazia antigamente”, diz.
Maria Izabel vive e trabalha no sítio Santo Antônio, uma linda propriedade à beiramar, a 5 km da cidade. Lá fica a plantação de cana e o alambique. Diz que só usa a própria cana ou a de propriedades próximas para poder cortála e moêla no mesmo dia, evitando a acidez. O alambique produz duas cachaças, a normal e a azulada, esta destilada com a folha da tangerina.
A bebida fica guardada em tonéis de jequitibá, que não interferem no aroma, e em barris de carvalho, que deixam a cachaça amarelada e, segundo Maria Izabel, “marcam” o sabor. Ela sabe que seu produto é o mais caro da região. “Nossa cachaça custa caro porque a produção é cara”, diz. “É muito mais dispendioso plantar cana do que comprála de Caçapava, por exemplo. E nossa plantação fica num morro, por isso não uso máquinas. A colheita é manual, feita com enxada.”
Os maiores consumidores da cachaça Maria Izabel são comerciantes da própria cidade de Paraty. Além deles, alguns turistas visitam o alambique para degustações e sempre levam garrafas. BOCA A BOCA A empresária não pensa em crescer mais:
“Aqui, trabalhamos só eu e três funcionários. Está bom assim”. A divulgação da cachaça é feita no boca a boca, assim como as visitas ao alambique. Não há nem sequer uma placa na estrada informando a localização do sítio. “Não quero ficar exposta. Afinal, eu moro aqui”, afirma.
Ela mora com a filha, Maia, 18, portadora da síndrome de Down. As duas vão à cidade quase todos os dias para sessões de fonoterapia. Será que alguma das filhas pretende continuar a tradição da cachaça Maria Izabel depois que a mãe se aposentar? “Não penso nisso. Se não quiserem, tudo bem.”
ANDRÉ BARCINSKI DE PARATY (RJ)